domingo, 26 de junho de 2016

Adentra-me ou vai-te!




           Ah meu caro... das dezenas de centímetros dessa pele que me veste tenho dúvidas de que haja algum que não tenha sido tocado. Mãos indelicadas e pouco amorosas que, ansiosas por um prazer fugaz, deixaram impresso em minha tez o pecado de doar-me ao deleite carnal, desconectando-me de minha'alma, num completo encontro de corpos, apenas.
Se é esta a tua oferta, querido, ao abarcar-me entre os teus braços e falar-me palavras que já não mais geram qualquer interesse em minhas emoções, digo-lhe, sem um segundo para um novo pensar: recuso-me!
          Não anseio por tuas mãos tocando onde tantas outras tocaram! Quero teus olhos adentrando a minha alma: tão selvagem e amedontrada pela invasão! Tocando-me em lugares no meu mais profundo íntimo... adentrando regiões de mim mesma mantidas em segredo pelo medo paralisante de admiti-las ter! Quero a novidade da conexão, o prazer pungente da reciprocidade, o gozo feliz de quem compartilha o principio vital!
         Por tanto, doce alma, toca-me o íntimo, território inexplorado ou guarda as tuas mãos descuidadas! Onde já há tantas marcas não há espaço, ou necessidade, de novas impressões.